sexta-feira, 24 de maio de 2013

Entrevista com a banda Declínio Social

Depois de mais uns dias sem movimentar o blog, estou de volta. Dessa vez a entrevista foi "puxada" do Zine Insanity Crusties. Eu explico o que aconteceu...Havia solicitado uma entrevista já há algum tempo a banda Declinio Social, através do Felipe, lá de Divinópolis-MG. O tempo passou, e por vários contratempos pessoais, ele não pode me responder. Então ontem ele me passou um link com uma entrevista que eles haviam dado para um zine, e quando fui ler, era basicamente as mesmas perguntas que eu havia feito anteriormente. Sendo assim, achei que seria legal divulgar aqui, não só a entrevista com a banda, mas também o Zine Insanity Crusties, muito bem produzido pelo Gritão, lá de Sampa. Valeu por liberar a entrevista para postar aqui no Blog Tosco Todo!!!
Felipe, Lucas e Chegado formam a Declínio Social.
1- Quando a banda começou e qual foi a proposta inicial da banda?
Lucas “Cavera”: A “Declínio Social” nasce como projeto no final de 2002,especificamente no contexto das manifestações e plebiscitos contra a ALCA (Área de livre comércio das Américas), projeto imperialista Estadunidense de domínio econômico e político das Américas. Nas manifestações e viagens vinculadas a estas atividades, começamos junto a Nandão (ex vocalista) e Fernando “Doido”(ex baterista) pensar em um grupo, que vinculasse nossas concepções políticas e musicais, em um mesmo projeto. A partir daí Nandão e Doido se conectaram com Felipe e também a Frederico (ex guitarrista), onde começamos efetivamente a pensar os projetos e ideias que viriam a concretizar-se na “Declínio Social” em Janeiro de 2003.
Felipe: A banda é formada no fim de 2002, mas os ensaios se iniciam no inicio de 2003. Desde então, passamos por muitas experiências, mudanças na formação, gigs, viagens, lançamento de materiais, tivemos oportunidade de conhecer muita gente, fazer novas amizades (algumas destas creio e espero que levaremos pro resto de nossas vidas), outras realidades, possibilidade de intercambiar vivências, passamos por momentos fantásticos e também por algumas decepções e frustrações. A ideia inicial era fazer um som hardcore/punk direto com temáticas de cunho libertário e questões cotidianas, usando a música como uma forma de expressão e resistência aos padrões impostos, além de expor nossos sentimentos, angústias e convicções. Além da música, a proposta sempre foi e continua sendo trocar materiais, experiências, conhecer outras realidades, fazer novas amizades, viajar, tocar e levar a mensagem onde for possível. Acima do conceito de banda, somos um grupo/coletivo de amigos que temos bastante afinidade, gostamos muito de viver/criar/compartilhar momentos e experiências juntos.
Chegado: Minha primeira participação como baterista do Declínio Social aconteceu em novembro de 2006, sendo bastante inusitada. Após a desistência do então baterista (Fernando Doido) a um rolé marcado para tocar em SP (Germinal) fui convocado as presas para substitui-lo encima da hora. Sem ter como ensaiar, porém já conhecendo as musicas encarei o convite. Alguns anos mais tarde após a saída do então baterista (Weverson Tiririca) fui convocado novamente para uma mini tour SP/Paranaguá- PR/Curitiba, onde após seu termino permaneci no grupo até os dias atuais.
Baixe ou visualize o Zine em PDF
2- Quais são as formações pelas quais a banda passou? Qual a atual?
Felipe: Nestes quase dez anos de resistência e persistência, a banda passou por algumas mudanças na formação e acreditamos que cada membro que está na banda hoje e os que passaram, somaram muito, tanto sonoramente,quanto ideologicamente. A formação inicial da banda era Nandão (vocal), eu (Felipe- guitarra/backing vocals), Frederico (guitarra), Lucas "Cavera"(baixo/backing vocals) e Fernando "Doido"(bateria). Essa formação permaneceu até o ano de 2005, quando Frederico deixa a banda horas antes da gravação de nossa primeira demo. Assim a banda passa a ter somente uma guitarra. Já no início de 2007, Nandão e Doido também saem da banda. Com isso, Lucas e eu passamos a assumir os vocais e na bateria entra um antigo amigo, Weverson "Tiririca", que permanece até 2010. Com a saída de Weverson, Sérgio “Chegado” (outro amigo de longa data, que já tinha "quebrado o galho" na banda algumas vezes) assume as baquetas, formação que se mantém até os dias atuais.
Felipe dando voz ao Declínio Social
3- Quais os materiais lançados até agora?
Felipe: Temos um cd-r demo lançado no ano de 2005, com nove músicas próprias e um cover. No ano de 2008 gravamos o cd “Conflitos Diários”, que conta com algumas regravações de músicas da demo e sons novos. Este cd-r foi lançado no ano de 2009, conta com 12 músicas e teve uma boa distribuição. No início de 2012 lançamos um cd promo para a turnê sulamericana, realizada em Janeiro/fevereiro 2012. O cd, intitulado "Gira Sudamericana 2012", conta com 04 sons inéditos gravados em janeiro de 2011 mais as 12 músicas do "Conflitos Diários". Nesse mesmo período foi lançado também um split com xs amigxs da banda peruana Sin Patria, com cinco músicas ao vivo de cada banda. Além desses materiais, participamos de algumas compilações DIY, são elas: Compilação com seis bandas do cenário Punk/HC divinopolitano; compilação 1 minuto, Compilação "Nuestro ruido nuestra arma" (2009), com bandas latinoamericanas, v/a - Compilado internacional- Destruyendo Fronteras, editado pelo selo/blog/distro Crust Or Die, 2009, com bandas de diversas partes), v/a: "Somos los promotores de tu kaida inminente" (2009). Além destas, participamos também de algumas coletâneas virtuais. Estamos com sons novos gravados, alguns destes devem ir para alguns splits e outros projetos, que esperamos viabilizar em breve. Há também filmagens, registros e relatos da turnê sulamericana, esperamos começar a editar e soltar um material documental sobre as experiências vividas.
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04- Quais bandas são influência pra vocês? Fora da música, o que é influência para o som e as letras da banda?
Lucas: Influência musical HC/punk, nacional e latino-americano basicamente: Los crudos, sempre! Joy Division, Fuzilados por la demokrassia y Progrecidio (Argentina), Zaherir (Chile), Nuclear Frost, Mogwai, TOE, Social Chaos etc… Sobre as letras sempre versamos sobre temas que nos afetam diretamente, ou mesmo lutas e enfrentamentos com os quais nos identificamos. Em geral as mazelas que enfrenta e propaga a humanidade com a hegemonia do sistema capitalista, em suas distintas manifestações, ambientais, políticas, trabalhistas, gênero, racismo, cerceamento de liberdades, criminalização da pobreza etc.
Felipe: Acredito que tanto as influências sonoras, quanto a questão das letras são muito individuais e subjetivas, por isso temos influências bastante variadas e cada integrante tem seus gostos e particularidades. Vejo isso de maneira positiva, que faz com que cada um participe no processo de criação das músicas e letras de alguma forma (todos na banda escrevem as letras e participam da criação das músicas), este fator contribui para que a banda tenha uma sonoridade/característica particular. As bandas que escuto, são variadas, vai do hardcore punk nacional dos anos 80 e 90, crust suéco, hc finlandês , hardcore punk latino, dentre muitas outras coisas. Algumas bandas que influenciaram a DS são Los Crudos, Apatia No, Autonomia, Migra Violenta, Sin Dios, Execradores, Abuso Sonoro, Cólera, Axiom, Crass, The Mob, Armagedom, e diversas outras bandas, também bandas de amigxs e que tivemos o prazer de tocar juntos, que nem vou citar porque são muitas... (risos) Sobre as letras, as influências são temas libertários, luta dos povos e indivíduxs pela autonomia, reflexos da globalização no cotidiano como o desemprego, consumismo, preconceito, e as denúncia de algumas atitudes que consideramos negativas, como a intolerância, machismo, sexismo, racismo e homofobia presentes na sociedade, ambição, crueldade humana e desrespeito a outrxs individuxs, com a natureza e a outras espécies. Abordamos também algumas atitudes que vemos dentro do meio underground e consideramos negativas, como competição, posturas machistas/sexistas/homofóbicas, reprodução de preconceitos, utilização do underground como uma forma de autopromoção, vemos isso como uma forma de autocrítica, mas sem querer impor, doutrinar ou criar verdades absolutas, mas como uma forma de reflexão.
Chegado: Inicialmente quando comecei a tocar no Declinio Social minhas inspirações sonoras vinham do punk HC old school Norte Americano com pegadas rápidas e energéticas. Na atual conjuntura e depois de alguns anos tocando juntos as composições foram ficando mais diversificadas, incorporando assim uma outra pegada seja ela um pouco mais d beat ou variações da mesma com o grind. Porem a junção destes elementos sonoros com as temáticas das letras formam uma combinação do que podemos talvez definir como “Hardcore Latino” cuja as propostas reverenciem as lutas por dignidade de povos não somente Latino Americanos , mais toda forma de resistência ao capital mundial e autoritarismo presente, dentro de uma política de exclusão aos grupos minoritários.
Chegado é o dono das Baquetas do Declínio Social.
05- Como é a cena de Divinópolis?
Lucas: como atualmente não moro em Divinópolis mesmo tendo opiniões subjetivas sobre a “cena” não me sinto com legitimidade para falar de algo que não vivo no dia a dia...!
Chegado: A sempre um processo ligado ao tempo e lugar quando falamos de cena. E isso é nitidamente claro quando estamos inseridos neste contexto a alguns bons anos. Creio que como na maioria dos lugares existiam quase as mesmas dificuldades relativas a organizações de gigs, lugares para encontros e produções, pessoas dispostas a escrever textos e assim criarem um ponto em comum para resistirem neste meio underground através da arte em geral. Divinópolis é uma cidade interiorana com uma população media de 220.000 pessoas cujas relações no meio “alternativo” vêm sendo experimentada pelos que acreditam na diversidade cultural e no faça você mesmo independente de estilos específicos. Eu particularmente penso que essa especificidade de agregarmos estilos múltiplos dentro de uma cena fez com que as pessoas se sentissem de fato mais livres para mover as coisas. Assim nunca tivemos problemas em organizamos um som com bandas de rap juntas com alguma vertente do rock e tudo dentro de uma proposta política vinda do punk de não esperar que alguém faça algo por você. Com o tempo nos fortalecemos em grupo e individualmente com a criação do coletivo pulso e assim algumas pessoas se identificaram com esta proposta de solidariedade e interatividade dentro da cena. Ainda acreditamos e vivemos conforme a temática D.I.Y. no objetivo de sempre diferenciarmos das praticas voltadas para o rock de mercado e seu entretenimento vazio de final de semana. Hoje a uma super valorização da cultura “rock” na cidade causando uma serie de conflitos de identidade para uma nova geração. Mesmo com esse modelo pré-estabelecido e sem referências permanecemos verdadeiros com nossos propósitos e continuamos apostando no universo que absorvemos desde os primeiros dias de compreendimento da concepção do termo libertário.
Material "Faça Você Mesmo" da Declínio Social.
06- Conheci vocês tocando aqui em $P, qual a visão que vocês tem da cena daqui?
Felipe: Tivemos a oportunidade de tocar em SP duas vezes, em 2006 no Espaço Germinal e 2010 no Espaço Impróprio, infelizmente estes dois ótimos espaços não existem mais. Temos ótimas recordações, chegar na cidade e deparar com uma realidade completamente distinta da que estávamos acostumados, em São Paulo tudo é dimensionado a tomar uma proporção gigante. Uma infinidade de manifestações/produções, não só referentes a música, mas da contracultura em suas variadas formas. É sempre bom ir a SP, rever diversxs amigxs que gostamos muito, compartilhar e vivenciar momentos, fazer novas amizades. É um local que encontram-se muitos coletivos/grupos e indivíduxs organizadxs e sincerxs com suas propostas, produzindo, organizando, muitas bandas e manifestações, e vemos que há uma maior facilidade no que se diz respeito a produções, distribuição de material, espaços e organização de atividades Mas por outro lado, vejo um lado negativo também, briga de egos, rivalidades dentro da cena, algumas destas até entendo, outras não. Se gasta muita energia com questões que acredito não levar a nada. E também há um grande mal que não só vemos em SP, mas como também em várias partes do país, mas aí tem tendência a ficar maior que é o surgimento, fortalecimento e proliferação de grupos de direita e intolerância.
Lucas: Acho difícil falar da “Cena” em São Paulo, pela quantidade e variedade de grupos vinculados a mesma, vejo que existem varias cenas distintas, algumas inclusive antagônicas. Todavia, esse é um fator interessante que pode levar a construções ricas, pela própria variedade das pessoas e grupos circulando pelo mundo “metal/crust/punk” de São Paulo. Muitas vezes também pode por questões de egos e/ou diferenças ideológicas, levar a muito separatismo, logo, segundo o ”grupo” que te convide para tocar é provável que outros amigos não compareçam... Assim, a grandeza e diversidade da cena em São Paulo são pontos positivos que sempre nos chamou a atenção, porem, que podem ser também sua principal debilidade.
Chegado: Eu penso que foi uma superação muito grande pra todos nós do declínio social devido a circunstancias naquele momento. As duas vezes que estivemos tocando em SP foram ocasiões bem diferentes. A receptividade foi das melhoras possíveis fazendo com que de fato pudéssemos construir amizades que nos deixaram bastante felizes. Conhecer outros espaços e formas de organização nos amadureceu muito e nos fez pensar que com nossos esforços muitas coisas poderiam servir de referência em nosso meio. Em termos de cena nos deparamos com uma gama de diversidade cultural dentro do punk e também podemos sentir um pouco da correria das pessoas e as dificuldades relacionadas à conflitos ideológicos.
Declínio Social na Casa Tiao em Valparaíso-Chile-2012.
07- Vocês realizaram uma Tour pela América do $ul recentemente, contem um pouco de como foi essa experiência pra vocês! Quais as melhores gigs? Alguma história que mereça ser contada?
Felipe: A turnê foi uma experiência fantástica e intensa. Já tínhamos a ideia de fazer essa tour há alguns anos e já tentamos viabiliza-la outras vezes, mas sempre rolava algum problema que impossibilitava, só que dessa vez felizmente conseguimos. Depois de meses organizando, entrando em contato com o pessoal, estudando mapas, rotas, produzindo material, silkando camisetas, cds, organizando atividades, etc, saímos de Divinópolis no dia 29 de dezembro de 2011, em um carro ano 88 (consertado nas vésperas de sair), sem gps, somente com mapa (às vezes nem isso tínhamos), ou informações de rota, para viajar milhares e milhares de quilômetros,reencontrar várias pessoas que gostamos muito, conhecer muita gente, e viver tudo o que nos esperava. Foram mais de dois meses intensos, muita troca cultural, lugares fantásticos, espaços organizados, ótimas bandas, pessoas maravilhosas e recepções que jamais esqueceremos. Ao todo foram 20 gigs e um ensaio aberto, passamos por quatro países(Argentina, Chile, Peru e Bolívia) e todos os climas e realidades imagináveis. Por incrível que pareça e graças a persistência e também ao nosso incansável amigo Edinho (que animou viajar junto) e à nossa teimosia, não perdemos nenhuma, chegamos um pouco atrasado em algumas, mas no fim deu tudo certo. Das gigs e histórias acho difícil citar apenas uma, pela intensidade e sinceridade de tudo, e cada momento teve sua particularidade. Na viagem, as que marcaram foram os acampamentos, as vezes ficávamos acampados na beira da estrada, a vez que o carro quebrou na fronteira Argentina/Chile e atravessamos empurrando, o atolamento em plena selva boliviana, dentre outros "perrengues" nas fronteiras, o carro estragando (por várias vezes), seja em deserto, serras, litoral, selvas, cidades. Mas o mais importante foi poder vivenciar outras realidades e costumes,.. Muitas gigs marcaram muito, o contato com xs amigxs na Argentina, as atividades, militância e a resistência nas ocupas, atividades em solidariedade a presxs políticxs. As gigs nas ocupas chilenas, galera bem organizada e politizada, ótimas bandas, outro fator marcante foi atravessar 2.045 km em 5 dias no Atacama, tocando 4 vezes em quatro cidades diferentes. As gigs no Peru também foram muito boas, boas bandas, amigxs, estrutura, muita gente, além do fator cultural, que é marcante demais nesse país, os problemas e impactos que a globalização e a mineração vem deixando nas populações indígenas e do campo (isso nos quatro países que passamos, realidade parecida com a que vivemos aqui no Brasil). E na Bolívia também, pesando todas as dificuldades de se organizar atividades "faça você mesmo" no país e pessoas muito sinceras.
Lucas: Essa tour foi muito importante para o amadurecimento da banda tanto musicalmente, como enquanto
coletivo de pessoas. Tocar em todo tipo de lugares imagináveis, em dias de semana.... desde casas de show “profissionais” a porões de okupas. Tocar para muita gente num dia e no outro para quase ninguém....Conhecer experiências reais de resistência ao sistema, propositivas e não somente verborragias demagógicas. Dentre outras coisas creio que cabe ressaltar o carinho com que fomos recebidos em todos os 4 países que passamos, a curiosidade e amabilidade com que nos recebiam e o interesse que tinham para saber mais coisas do Brasil, bandas, cena, cultura, etc. Além de quase sempre perguntarem/questionarem por que mais bandas brasileiras não tocavam em estes países vizinhos... Na verdade cada gig foi/é uma experiência nova e única, além do fato de que gostamos mais do resultado da banda ao vivo que dos materiais que gravamos até o momento, essas experiências ao vivo nos fazem querer seguir com a Declínio Social há quase 10 anos, pese a todas as dificuldades.
Chegado: Parte desta pergunta pode se transformar em um livro daqui a um tempo, pois escrevi uma espécie de diário na estrada sobre este role. Foi como nascer novamente em todos os sentidos possíveis. Quando saímos não sabíamos de fato da representatividade desta Tour em nossas vidas em termos de experiência pessoal. As mil correrias de cada um para que tudo desse certo foi algo inacreditável dentro das nossas possibilidades. São tantas Historias pra contar que seria uma injustiça muito grande evidenciar apenas algumas. Eu prefiro falar de algo que pode muito bem definir o nosso comportamento neste role inesquecível que foi a superação e vontade de cada um de nós presentes naquele momento junto as energias positivas e carinhos que recebemos por todxs. Guardo todos os momentos e pessoas no meu coração e espero poder retribuir essa mesma simpatia que tivemos nos dois meses e dois dias rasgando a América Latina em uma Elba 88.
O carro pedia um empurrão em vários momentos da Turnê
08- Na opinião de vocês, qual a importância da política para o punk? A banda tem postura política definida?
Felipe: Somos uma banda libertária, um coletivo, grupo de pessoas que acreditam no potencial do punk de transformar/conscientizar as pessoas, uma mudança de realidade e postura crítica perante as injustiças da sociedade. Acredito no punk como uma forma de expressão, negação, uma revolução pessoal e uma forma de resistência aos valores impostos, hipocrisia e criações sociais. Vejo o lado político como um fator de fundamental importância, acredito no poder do punk para aglutinar pessoas com afinidades ideológicas e sonoras, mas não tenho a ilusão que o punk por si só trará alguma mudança. Não vejo o punk desvinculado do restante da sociedade, como uma "bolha", mas como o reflexo dela, por isso acho importante o contato com outros grupos/movimentos e individuxs fora do cenário. É claro que sem imposições e sim a exposição de idéias. Cada membro da banda tem sua opinião quanto ao assunto, pois eu acredito que o punk, além de movimento, é uma revolução pessoal.
Lucas: Acho que o Punk sem o conteúdo político contestatório, não passa de uma “Moda”, ou como dizia a mídia nos anos 80 uma “new wave”. O Punk continua vivo e forte até os dias atuais por permitir vislumbrar através da musica e demais atividades contraculturais vinculadas (por conseguinte, políticas), projetos e formas de vida diferentes aos que nos são impostos como “únicos” pelo status quo. Assim, o conteúdo político do Punk tem uma importância singular, a despeito de outros estilos musicais ou “ondas” que tem como objetivo divertir e fazer dinheiro. Vejo o punk como resultado das contradições estruturais dessa sociedade capitalista, logo, o caráter político do mesmo é inerente a sua própria gênese.
Lucas: Baixo e vocais da Declínio Social.
09- Na música "Desempregado" vocês tratam da discriminação que as pessoas sofrem por estar sem trabalhar e a dificuldade que as pessoas tem em arrumar um emprego, a relação trabalho X vida X sobrevivência é ruim para todxs e um problema ainda maior para nós punx que buscamos viver de uma maneira libertária, qual é a vivência de vocês em relação a trabalho? Quais as dificuldades em manter um trabalho, uma banda e se manter ativo enquanto punk?
Felipe: Desempregado foi umas das primeiras músicas que fizemos, e ela surge em um contexto onde todos integrantes da banda (na época cinco) se encontravam desempregados. A letra é baseada na relação de preconceito que desempregadxs passam e como são vistos pela sociedade, numa realidade onde se cobra muita técnica e especialização e as oportunidades não estão aí para todxs. A concorrência, técnica, lógica do mercado e mecanização é cada vez maior, o que gera o egoísmo e desrespeito com x outrx, ou o que não tem as mesmas condições, vemos isso como uma forma de exclusão, onde se é permitido "engolir" x outrx. Em muitas das vezes o que resta como alternativa ao indivídux é ficar a mercê e ter que "vender" sua força de trabalho, ser explorado por uma quantia que mal dá para sobreviver e suprir suas necessidades. Eu trabalho como professor, atualmente na rede municipal e como foi dito na pergunta, nós que vivemos ou tentamos criar maneiras, vivências, relações mais autônomas e libertárias sofremos o preconceito, a escola é um reflexo de tudo na esfera social, e no ambiente escolar estão presentes as mais variadas formas de preconceito. Esbarramos também na lógica em que tudo que é visto como inovador nas salas de aula é tratado com desconfiança por parte de algumas direções e coordenações das escolas, pois a educação é vista/tratada como um mecanismo e aparelho repressor. As vezes bate um desânimo, angústia e sensação de impotência, mas mesmo nesse contexto, dá para trabalhar algumas questões relevantes e interessantes. O importante é ser sincero consigo mesmo, nas relações. Quanto a manter banda e outras atividades com trabalho, a questão de conciliação, não é fácil, e pesa um pouco, tanto é que nós nem tocamos/ensaiamos direto. O Lucas atualmente vive em Buenos Aires, e as vezes a banda fica algum tempo sem tocar, mas sempre ativa, tentando escrever, buscando contatos, e pra quando encontramos produzimos materiais, atividades, articulações.
Santiago-Chile-2012.
10- Vocês estão envolvidos em outros projetos, bandas, distros, coletivos e/ou outras atividades contra culturais?
Felipe: Participo do Coletivo Pulso (www.coletivopulso.blogspot.com) Coletivo que produz atividades (contra) culturais, gigs, eventos, debates, dentre outras. Atualmente o coletivo anda um pouco parado, se comparado a movimentação que rolava há alguns anos atrás, hoje temos um espaço mensal na Biblioteca Pública da cidade, para exibição de vídeos e debates. Participávamos também de alguns espaços autogestionários, tivemos a experiência da ocupação IuerePoma Poty, neste espaço ocupado e autogestionado havia uma horta comunitária/biblioteca comunitária, moradia e outras atividades. Apoiamos também outros grupos/ coletivos/espaços, manifestações e movimentos, como na organização da Bicicletada-Divinópolis, dentre outros. Fora isso, já participei de outros projetos e de algumas outras bandas, atualmente toco guitarra na FinalTrágico.. , banda d-beat/ crust e faço vocal na Brutalitaät, que faz um som mais influenciado por bandas hc/punk finlandesas antigas. Tenho um projeto antigo e conspirações de um zine, espero que logo esteja rolando.
Chegado: Já me inseri em vários projetos com o passar dos anos e todos foram muito sinceros com o que eu sentia naquele momento. Hoje além de tocar bateria no Declínio Social, estou pra voltar a ensaiar com o Malespero que faz um som mais crust existencialista onde comecei tocando bateria e agora vou tocar baixo. Ainda se falando de bandas, comecei a fazer vocal em uma banda de uns amigos de Belo Horizonte chamada Filhos da Desgraça e em breve pretendo lançar o material destas duas bandas também pela minha distro, No Future. Apesar da incessante correria, as idéias foram dando vazão depois que conseguimos canalizar e concentrar nossos esforços coletivamente e sendo assim muita coisa ocorreu e vem ocorrendo depois do Coletivo Pulso (2006).Sempre estou envolvido de alguma maneira com grupos e espaços diversos como o Barkaça (voltado mais para a área literária), teve também uma casa okupa que resistiu bravamente durante uns 11 meses chamada Iuerepoma Poty, intervenções diversas como a bicicletada, panfletagens anti rodeio, utilização de espaços públicos para exibições de videos/debates e outros tantos que ainda estão por vir. No momento estamos construindo um espaço chamado Studio/bar onde gravamos umas musicas novas do Declino Social. Esse espaço tem muito potencial para se transformar em um local cujas atividades que pretendemos possam ser supridas nele a partir da correria de uma galera. (Studio para ensaio e gravação, bar, atelier, local para oficinas, radio comunitária, loja de materiais diversos, sala de cinema e outros).

11- Agradeço a atenção e a paciência, fica o espaço para dizer o que quiser!
Felipe: Nós que agradecemos pelo interesse, apoio, convite e paciência. É muito bom receber zines impressos e ficamos muito felizes em poder participar. Infelizmente a cultura do zine em papel vem perdendo espaço, num cenário onde quase tudo passa por um processo de “virtualização”. Acreditamos muito no papel do zine de informar/difundir/propagar ideias, troca de informações, novas amizades, contatos, intercâmbio, troca de materiais, conhecer outras realidades, etc. Parabéns Gritão pelo ótimo zine, bons textos e o suporte que dá a bandas e outras manifestações contraculturais e "faça você mesmo". Boa sorte e que venham muitas outras edições do Insanity Crusties. Continue gritando Gritão (risos)... Quem tiver interesse em entrar em contato e saber mais sobre a banda, fazer amizades, contestar, trocar material, etc entrem em contato:
decliniosocial@hotmail.com
reverbnation.com/decliniosocial
Página no facebook: Declínio Social
Beijos, abraços, saúde e resistência a todxs!!
Chegado: É muito gratificante ver pessoas como você correndo atrás de organizar um zine tão bem elaborado e total D.I.Y. É um grande prazer pra gente estar contribuindo de alguma para esse zine que diga se de passagem é uma excelente referencia para uma galera que esta vindo ai, e incentivo para os que estão querendo fazer os seus. Grande abraço, muita sorte e saúde ai para você e todos os camaradas que se desdobram pra fazer as coisas acontecerem.
OUÇA AQUI MAIS DECLÍNIO SOCIAL:
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