sábado, 25 de junho de 2016

Entrevista com Zeu Ranzinza da Sujo in Mundo

A banda Sujo in Mundo é da cidade de Salvador-Ba, entre idas e vindas a banda já lançou dois CDs demo, e esse ano volta a ativa para gravar mais um material inédito. Conversei com o Zeu Ranzinza, vocalista e guitarrista da banda, que além de falar sobre esse material que está por vir, contou um pouco mais sobre a história da banda. Acompanhe e conheça um pouco mais sobre a história do subterrâneo baiano.
Zeu Ranzinza - Vocalista da Sujo in Mundo
Vamos começar esclarecendo logo por que a banda parou em 2008 e resolveu voltar agora em 2016?
Zeu Ranzinza - Em 2008 a banda dissolveu. Em 2009 me mudei para Feira de Santana, retornando a Salvador em 2014. Ensaiamos voltar em 2013 para fazer uma espécie de aniversário de 10 anos da formação da banda, não rolou. Esse ano, tudo favoreceu para o retorno. Chamei Juninho, que foi o primeiro baterista da banda, e um amigo que colava sempre nos ensaios da Sujo in Mundo, Rafael, e, enfim, voltamos a ensaiar.
Sujo in Mundo 2016: Zeu (guitarra e vocal), Rafael (baixo e back vocal), Juninho (bateria)
Qual era a proposta ao montar uma banda em Salvador em 2003? Como era a cena daquela época?
Zeu Ranzinza - O objetivo era fazer um som que tratasse do nosso cotidiano, falasse da nossa realidade. Éramos bem jovens nessa época, tudo era bem difícil. "Pulávamos de galho em galho” procurando lugar para ensaiar, faltava instrumento e etc, só não faltava vontade de tocar e expressar nosso descontentamento perante o sistema. No tocante à cena, foi um período de grande efervescência. Muitas bandas boas de H.C surgiram nesse contexto do início da década de 2000. Ouvíamos falar no MAP (Movimento Anarco-punk), Quilombo Cecília, Raws Punks, mas era algo distante de nós. A cena da gente nesse período era a rock n roll, começamos a entender o Punk após o primeiro ano de banda.

Foi em 2003 que a Sujo in Mundo lança o primeiro CD intitulado “Mundo sujo”. Quais eram as influências e como foi a produção e distribuição desse material?
Zeu Ranzinza - Rapaz foi bem peculiar essa gravação. Como dissemos, faltava tudo, menos vontade, tínhamos pouco mais de seis meses de banda quando entramos no estúdio pra gravar. Pra falar a verdade, teve músicas que terminamos no dia da gravação (risos). As influências nesse período era o que chegava a nós, tipo, é bom esclarecer para quem está chegando por agora que nessa época material sonoro era bem restrito. Para conseguir um som punk, fita, CD, ou vinil, tinha que ralar muito. Geralmente, a forma mais tranquila era pedir emprestado. Lembro de ter levado um CD (agora tá valendo) da banda pernambucana "Devotos" para os demais ouvirem, além deles ouvíamos: Cólera, Inocentes, Olho Seco, Mercenárias, R.D.P e outros clássicos do punk nacional.
Ouça aqui o primeiro CD da Sujo in Mundo.
Três anos depois a banda lança o CD “Rotina da Angústia”, que já vinha com outra sonoridade, mais D-beat. Porque mudaram o som?
Zeu Ranzinza - Para ser sincero, nesse contexto muitas bandas do cenário hardcore de Salvador começaram a aderir um estilo mais pesado, com vocais guturais ou rasgados. Também mudamos a formação com a entrada de Patrícia no baixo e vocal. Além disso, começamos a ouvir muitas bandas punks estrangeiras e absorvemos muitas referências de bandas ao estilo crust D-beat e hardcore punk. Bandas como Epajarjestys, Mob 47, Puke, Varukers, Moderat Likvidation, Confuse, Crucifix, Black Uniforms, Crud SS, Fear of War dentre muitas outras passaram a ser nossa principal influência.
Sujo in Mundo: Rotina da Angústia - 2006
E em meio a essas mudanças de formação e sonoridades, a banda teve também uma mulher como baixista e vocalista. Por que ela não voltou com vocês e qual a importância da presença feminina no meio punk HC underground?
Zeu Ranzinza - Como comentei agora pouco, com a entrada de Patrícia assumimos uma postura mais agressiva, um som mais pesado. A razão dela não ter voltado, em linhas gerais, corresponde muito às mudanças que qualquer indivíduo passa, o que é normal, a partir das nossas experiências como sujeitos vamos formando nossa identidade, que é forjada constantemente. Com o termino da banda, em 2008, ela foi estudar em outra cidade, impossibilitando qualquer tentativa de retorno. Sobre a presença feminina no meio punk HC underground, acreditamos que em qualquer espaço deve existir representatividade feminina. É tamanha a nossa revolta quando presenciamos atitudes machistas, às vezes sutis, de pessoas que assumem posturas contrárias a todo tipo de opressão. É estúpido, mas infelizmente é constante ouvirmos expressões machistas, misóginas e sexistas de sujeitos que estão inseridos na cena, mas enquanto punks, undergrounds, até mesmo rock n roll, não podemos dar de ombros, temos que combater diariamente o machismo e sermos solidários a causa feminista, sempre.
Patrícia na formação antiga
E quais os planos agora com essa volta da Sujo in Mundo? Vem CD novo por aí, algum show em vista? O que podemos esperar?
Zeu Ranzinza - Primeiramente é ensaiar por uns meses sem pensar em retorno imediato aos palcos. Acredito que existe muita expectativa do nosso público e mais ainda da gente no retorno, porém temos que ter cautela para tudo acontecer da melhor maneira possível. Estamos em processo de composição, já temos seis sons prontos, faltando alguns ajustes. A intenção é compor mais seis ou sete e fechar a próxima demo ainda esse ano, inclusive já tem nome, chamará "Continua Sujo".

Muito obrigado pela atenção. O espaço é todo de vocês:
Zeu Ranzinza - Nós que agradecemos pela oportunidade. Gostaria também de agradecer toda galera que sempre colou no som da gente e sempre nos cobrou um retorno. O que mais motivou nossa retomada, foi perceber o avanço de ideias ultraconservadoras, reacionárias e fascistas no contexto social atual. Esperamos, com o nosso retorno, contribuir de alguma forma para destruir o fascismo e qualquer tipo de opressão, seja ela xenofobia, homofobia, machismo e racismo etc. Enquanto o sistema for sujo... por isso Sujo in Mundo.

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